domingo, 28 de junho de 2009

Desde que
Que cheguei aqui
Tive que
Que me decidir
Desde que

Que cheguei aqui
Tive que
Que me decidir
Vou ficando
Vou vivendo
Ou devo partir
Fui ficando
Fui vivendo
Fui partir
Era muito tarde
Quase que parto
Mas estava inseguro
Quase que embarco
Num sonho maduro
Quase me curo
Quase, eu juro
Quase dou um grande salto
Para o futuro
Fiquei no caminho
Faltou só um pouquinho

Nunca estive tão perto de ser feliz
Olha! Só não deu certo porque eu não quis
Vi a sorte a um palmo do meu nariz


(...)
Quase que me expresso
Já pensou o sucesso!

Quase fiz tudo certo pra ser feliz
Quase que eu fiz de tudo mas eu não fiz
Quase alcancei a glória foi por um triz
Quase!
[Luiz Tatit - Quase]

Puxa. Puxa. Solidão dói e eu nem sabia. Juro que não sabia, até que a vida me disse sim. Todos os sins que eu pedi ela chegou e disse:
sim sim sim!
Naquela noite eu toquei a campainha, meus anseios me disseram que sim, fui convidada a entrar, e disse sim, fui recebida a vinho (mentira, foi cerveja mesmo) ferro e fogo.
E gozei (fingi, confesso) do cálido gosto da solidão. Era tarde, não era noite. Era frio, não era quente. Era doce, não era amargo. Doce. Mas só.
sim.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Dentre todos os últimos, tinha sido o maior dos sonhos. Regado a vinho (branco!) e azeite, água e caramelo.
Então tinha que dar certo. Tem coisa que nasce é pra dar certo, e não pra outra coisa.

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.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Dentro de mim existe alguma coisa que espera a sua volta, de repente, não sei se pela janela ou se aparecerá novamente no mesmo lugar. Para prevenir surpresas, tenho deixado sempre abertas todas as janelas e todas as portas de todos os guarda-roupas. Enquanto não chega, preparo duas coroas de flores: uma para o túmulo de minha mãe, outra para o guarda-roupa que ele habitava.
[Caio Fernando Abreu, Réquiem por um fugitivo]



Há poucos sete dias tudo parecia outro. Eu, você, o teto do quarto. Ei!
Ei!
Hoje à noite, aquela mesma história que tanto nos alegra escutar: "a tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos".
"Eu tenho sete faces", me disse certa vez enquanto mastigava um pedaço de pizza. Eu eu, tonta, a esperar por todas elas.
Não vai me ouvir esta noite?
É que eu me calei há tempo... isso tampouco você percebeu. E se eu te pedisse pra me morder? Ou me dar um tapa, bem de leve. Um tapa.

Ainda está aí?
Oh, já se foi!
Eu também já havia ido, bem antes de você. Sei que você sequer havia notado. É que do outro lado eu continuei fazendo os mesmos ruídos, às mesmas horas do dia, pra você não sentir a minha falta. Pra não sentirmos.
E, sobretudo, pra que se um dia eu resolvesse voltar! Se um dia eu resolvesse voltar, bastaria abrir a porta às cinco da manhã, me deitar na cama, beijar tua face - "santa e nua" -, murmurar um sonolento 'bom dia', me aconchegar outra vez em seu peito e dormir mais um pouco. Como hoje de manhã! Você se ainda consegue se lembrar de todas as manhãs?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Meu quarto

Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.
[Caio Fernando Abreu, "Os dragões não conhecem o paraíso"]


Mais um blog. O quarto!
Que este seja doce. Que dure para sempre. Que seja minha casa de chá, exercício da disciplina, da rotina, do descanso, "um descanso na loucura"! Que seja eu, meu caminho em torno do nada, para nada: que seja música para todos os dias. De agora em diante, será perdido o único dia em que não se escreveu. Existe ainda uma eternidade de faíscas que devem ser acesas na nossa busca incessante pela descoberta do fogo.
O fogo começa aqui. Que seja feita a nossa vontade!